
Em algum momento da sua vida, você enfrentará uma crise. Financeira, emocional, estrutural, existencial, de saúde. Talvez você já esteja enfrentando uma agora.
E aqui está a verdade incômoda que levei anos para aceitar: as crises não existem “fora de nós”. Elas existem “em nós”. São uma leitura mental complexa que fazemos de uma situação específica com a qual não sabemos lidar ou que está fora da nossa zona de conforto, causando frustração profunda.
A grande questão não é se você vai enfrentar crises. É como você vai enfrentá-las.
Deixa eu te mostrar algo que transformou completamente minha perspectiva durante os piores anos da minha vida profissional. Imagine que a crise que você está vivenciando é como um prato intragável, repugnante, asqueroso, nauseabundo, que deve ser consumido todos os dias, obrigatoriamente. Não há como escapar. Não há como adiar. Não há como transferir para outra pessoa.
Então, como fazê-lo?
A resposta é brutalmente simples: há duas formas de ingeri-lo. Você pode comê-lo rindo ou chorando. Rindo ou chorando. Não há outra perspectiva.
Você vai enfrentar aquela situação difícil de qualquer jeito. A dor existe. O desafio está ali. A decisão precisa ser tomada. O trabalho precisa ser feito. O problema precisa ser resolvido. A única coisa que você realmente controla é a atitude com que vai fazer isso.
Nos últimos tempos, antes da minha transformação pessoal, observei amigos, colegas e clientes reclamando de crises. Crise econômica. Crise política. Crise moral. Crise institucional. A cada vez que abrimos o jornal ou conversamos numa mesa de bar, acabamos redundando na ideia coletiva de que tudo está ruim. E realmente estava. Mas aqui está a pergunta crucial: o quanto isso te afeta? O quanto você se deixa afetar?
Pessoas próximas relatavam estar passando por dificuldades severas em seus negócios. Clientes sumiam. Projetos eram cancelados. Estruturas tinham de ser encolhidas. O dinheiro simplesmente desaparecia.
E se nas empresas isso era preocupante, em casa – que deveria ser ambiente acolhedor – a situação era pior. Insatisfação contaminava toda a família. Minha vida profissional também foi marcada por esses ciclos. Sofri problemas agudos em que decisões difíceis precisaram ser tomadas. E durante muito tempo, vivi essas crises chorando. Literalmente.
É muito comum olharmos para nossos esforços passados, nossa dedicação, nosso trabalho intenso, nosso desejo de vencer, e questionar o que está ocorrendo sob a ótica da injustiça. Você não merece nada disso, certo?
Talvez. Mas aqui está a verdade que ninguém quer ouvir: tudo o que você sabe, tudo o que você aprendeu, todas as decisões que tomou e aplicou em seu negócio ou em sua vida levaram-no exatamente aonde está hoje.
Traçando um paralelo, nenhuma tempestade acontece de imediato. Primeiro há mudança de temperatura, de pressão, de umidade. Depois começam os ventos. As formações de nuvens ganham quilômetros de altura, ficam escuras, cospem raios. Tudo num processo declarado, visível, previsível.
Em grande parte dos casos, somos nós os responsáveis pelas nossas próprias crises. Vivemos o reflexo ou os desdobramentos de nossas decisões – ou da ausência delas. Nestes casos, a última coisa que você deve fazer é se enxergar como vítima. Ter pena de si mesmo ou achar que no final haverá alguma recompensa cósmica por todo seu sofrimento impedirá você de reconhecer o maior benefício que pode receber: o aprendizado real, verdadeiro.
Pense comigo: escola convencional boa geralmente é paga. A escola da vida cobra caro, mas não em dinheiro vivo. Já é uma vantagem, certo? Mas há uma diferença fundamental entre as duas.
Na escola convencional, você aprende uma lição e depois é posto à prova. Na escola da vida, você é posto à prova e depois aprende uma lição. Para evoluir – já que ninguém escapa da evolução – é necessário unir o melhor das duas: ter conhecimento teórico de qualidade e também viver uma vida intensa, densa, rica em experiências.
As crises são parte essencial desse processo evolutivo.
Aqui está algo que levei tempo para compreender: nosso cérebro foi moldado ao longo de milhões de anos para um ambiente tribal pequeno e previsível. Nossas expectativas sobre como a vida deveria funcionar foram formadas nesse contexto. Esforço deveria levar diretamente a recompensa. Trabalho duro deveria garantir segurança. Lealdade ao grupo deveria ser retribuída.
Mas o mundo moderno não funciona assim. O mundo moderno é complexo, caótico, imprevisível. Você pode fazer tudo certo e ainda assim enfrentar crises que parecem injustas. Esse é mais um descompasso evolutivo: cérebro tribal tentando navegar realidade moderna hipercomplexa.
E quando a realidade não corresponde às nossas expectativas ancestrais, respondemos com ressentimento, com sensação de injustiça, com vitimização. Mas isso não ajuda. Só aumenta o sofrimento.
Voltando à metáfora do prato intragável: você vai comê-lo de qualquer jeito. A questão é apenas como.
Quando você come chorando, carrega consigo:
Quando você come rindo, carrega:
A dor pode ser a mesma. O desafio pode ser idêntico. Mas a experiência interna e os resultados futuros são radicalmente diferentes.
Deixa eu esclarecer algo importante: escolher rir não significa fingir que está tudo bem. Não significa negar a dificuldade. Não significa se tornar falso positivo alienado da realidade. Significa escolher não adicionar camadas desnecessárias de sofrimento emocional a uma situação que já é difícil por si só.
Significa reconhecer: “Sim, isso é duro. Sim, isso é desafiador. Mas eu vou atravessar isso da melhor forma possível, aprendendo o máximo que puder, sem me afundar em autopiedade.”
É diferente. E faz toda diferença.
Passei anos comendo o prato intragável chorando. Reclamando da injustiça. Sentindo pena de mim mesmo. Esperando que alguém ou algo viesse me salvar. Não veio.
E quando finalmente entendi que eu era o único responsável por minha própria salvação, quando aceitei que as crises faziam parte do processo, quando escolhi enfrentar os desafios rindo em vez de chorando, tudo mudou. Não porque os problemas desapareceram magicamente. Mas porque eu mudei a forma como me relacionava com eles.
Neste exato momento, você pode estar enfrentando sua própria crise. Financeira, de saúde, de relacionamento, profissional, existencial. E aqui está a pergunta que só você pode responder: como você vai enfrentá-la?
Chorando? Reclamando da injustiça? Esperando que alguém venha te salvar? Paralisado pela autopiedade?
Ou rindo? Aceitando a realidade? Assumindo responsabilidade? Buscando soluções criativas? Extraindo lições? Crescendo através da adversidade?
O prato está na sua frente. Você vai ter que comê-lo de qualquer jeito. A única escolha real que você tem é a atitude com que vai fazer isso. Escolha sabiamente. Porque essa escolha define não apenas como você atravessa a crise, mas quem você se torna do outro lado dela.
Cuide da sua saúde emocional. Porque ninguém fará isso por você.