
O que é o tempo? Uma pergunta que intrigou filósofos, matemáticos e físicos ao longo da história. Não há um consenso absoluto, mesmo porque o tempo é, para nós, um evento psicológico. Uma sensação derivada dos nossos sentidos.
A visão percebe as mudanças que acontecem ao nosso redor. Nós e os animais enxergamos o mundo como se fosse um vídeo contínuo. O que fazemos é conectar as imagens enviadas pelos olhos ao cérebro em uma determinada quantidade de vezes por segundo. A velocidade em que as imagens são processadas é chamada de frequência crítica de fusão da luz vacilante.
Como regra geral, quanto menor o animal, mais rápida essa frequência. Nos humanos são sessenta imagens por segundo. Alguns pássaros veem em cem a cento e quarenta por segundo. As moscas, de duzentas a quatrocentas. Um movimento que para nós é normal, para esses animais é como estar em câmera lenta.
Mas podemos abordar o tempo de outra forma. Você tem certeza de que o passado e o presente são momentos diferentes e distantes? Experimente olhar para o céu em uma noite sem luar. Em condições ideais, são visíveis quase nove mil estrelas. O brilho que nos chega agora da estrela mais próxima foi emitido há mais de quatro anos. Mesmo a luz do sol que aquece os nossos rostos foi emitida pelo astro-rei há mais de oito minutos. Neste momento, o passado e o presente se misturam.
O tempo é a única constante no universo. E talvez você esteja desperdiçando o seu.
Hoje somos aproximadamente oito bilhões de humanos. Em pouco mais de cem anos, ninguém estará vivo. Nem eu, nem você, nenhum amigo ou familiar. Absolutamente ninguém desses oito bilhões estará respirando, compartilhando a atmosfera.
Os budistas chamam isso de impermanência. O fato inevitável da nossa finitude. E por mais longa que a vida possa parecer, se ela passar na indiferença, na falta de propósito real, terá sido desperdiçada.
Oitenta e cinco mil pessoas perdem as suas vidas hoje. Portanto, entre duzentas e trezentas mil outras pessoas perdem os seus entes queridos. Amanhã, outros oitenta e cinco mil morrem. Depois de amanhã, mais oitenta e cinco mil.
Você sabe disso intelectualmente. Mas provavelmente não sente de forma visceral. Por isso adia as decisões importantes. Por isso pode estar desperdiçando o tempo com o que não importa. Por isso vive como se tivesse uma eternidade pela frente.
Você não tem.
O tempo é simultaneamente precioso e desperdiçável. Os ápices de felicidade genuína duram frações. Você tem um momento de conexão profunda com alguém que ama, uma experiência de beleza que te comove, a realização de algo significativo – passa em um instante. A memória permanece, mas o momento em si é fugaz.
A apatia, por outro lado, se arrasta por dias sem fim. O trabalho que não te realiza consome décadas. Os relacionamentos mortos continuam por inércia durante anos. Você pode passar metade da vida adiando viver de verdade.
O valor do tempo só é percebido quando o perdemos, apesar de nunca termos possuído de fato. É um bem que não controlamos. Apenas usamos enquanto dura. E a duração é desconhecida.
Em um tempo longínquo como o infinito, a nossa existência é menos que um sopro rápido. Pode acabar antes mesmo de deixar um vestígio na história. Provavelmente vai acabar assim. Para quase todos, acaba assim.
Para cada um de nós, o tempo é único. Passamos a vida na certeza de encontrarmos a felicidade, mas o tempo é tudo o que pode nos separar dela. Se você se atrasar em entender o que procura, o que tem verdadeiro valor, o que realmente importa, pode perder um tempo precioso que não volta.
Observe honestamente onde está investindo os seus dias. Muitas pessoas gastam a melhor parte da vida perseguindo objetivos puramente profissionais, carreirísticos. Buscam um sucesso definido por padrões externos – título, salário, status. Acumulam conquistas que não significam nada pessoalmente além de uma validação temporária.
Ou desperdiçam o tempo em objetivos estritamente econômicos. Um acúmulo material que nunca satisfaz porque sempre há um próximo nível de riqueza a atingir. Uma segurança financeira que nunca se sente suficiente não importa o quanto acumulam.
Ou investem em conquistas amorosas efêmeras. Relacionamentos superficiais que preenchem a solidão momentaneamente mas deixam o vazio intacto. Uma busca de validação através do desejo alheio em vez de uma conexão genuína.
Tudo isso é fluido, transitório, substituível, alienante. Você pode estar perdendo o tempo com o que não eterniza, o que não engrandece. E quando finalmente percebe – se percebe – já desperdiçou décadas que nunca recupera.
Durante centenas de milhares de anos de evolução, o acúmulo de recursos era adaptativamente valioso porque a escassez era real. Estocar gordura corporal, acumular alimentos, buscar status dentro do grupo tribal pequeno – tudo isso aumentava as chances de sobrevivência e reprodução.
Então você herdou impulsos profundos para acumular, para buscar status, para competir por recursos, para obter a validação do grupo. Esses impulsos fizeram sentido evolutivo durante milênios.
Mas o mundo moderno não é a savana paleolítica. Você não vive em escassez real de recursos. Vive em uma sociedade de abundância relativa onde as necessidades básicas podem ser satisfeitas sem acúmulo compulsivo. O status dentro de um grupo de cinquenta pessoas já não determina a sobrevivência. A validação de estranhos nas redes sociais não tem valor adaptativo real.
Ainda assim, você pode continuar operando em modo ancestral. Perseguindo compulsivamente um acúmulo que não precisa, um status que não importa, uma validação que não satisfaz. Porque os circuitos neurais antigos não desligam automaticamente só porque o ambiente mudou.
E o tempo passa enquanto você pode estar perseguindo miragens.
Se o tempo é o bem mais precioso que você tem, e se você vai inevitavelmente perdê-lo através da morte, então a questão crítica é: no que vale investir o tempo limitado?
Não há uma resposta universal. Cada pessoa precisa responder por si. Mas há um princípio orientador que vale considerar: talvez valha investir o tempo no que engrandece, no que tem a possibilidade de eternizar, no que permanece significativo quando você remove todas as camadas de validação externa.
As conexões genuínas com as pessoas que você ama. Não os relacionamentos performáticos que mantém por obrigação social, mas os vínculos profundos que nutrem reciprocamente. O tempo com essas pessoas não é desperdiçado mesmo quando não estão “fazendo nada produtivo”. É exatamente o oposto de desperdício.
O crescimento real como pessoa. Não o acúmulo de conquistas externas para impressionar os outros, mas o desenvolvimento de capacidades, compreensão, sabedoria que te tornam mais completo. Aprender não para obter uma credencial, mas porque te transforma.
A criação de algo significativo. Não necessariamente uma obra de arte reconhecida ou um negócio bem-sucedido. Qualquer coisa que você constrói com cuidado e que reflete os seus valores autênticos. Um jardim, uma família, uma comunidade, conhecimento, beleza. Algo que permanece depois que você se vai.
A experiência de momentos que justificam a existência. A beleza que te comove. A verdade que te ilumina. A conexão que te completa. Não se acumulam esses momentos. Vive-se plenamente quando surgem.
Quando você reflete sobre o tempo, pense nos seus dias de vida como se fossem os goles de água que restam em um cantil no meio do deserto. Cada dia que passa é um gole que nunca retorna. Você vai querer desperdiçá-los?
Não estou sugerindo que você viva com uma ansiedade constante sobre a mortalidade. Estou sugerindo que talvez valha viver com uma consciência da finitude que te move a investir o tempo no que importa em vez de desperdiçar em distrações e obrigações vazias.
O tempo te faz querer acelerar quando você é jovem. Você tem uma sensação de eternidade pela frente, então adia o que realmente importa. O tempo te impele a puxar o freio de mão na velhice. Você finalmente percebe que acabou, mas pode ser tarde demais para recuperar as décadas perdidas.
Vale considerar não esperar chegar na velhice para entender isso. Oitenta e cinco mil pessoas não chegam na velhice. Morrem hoje. Alguns jovens, outros de meia-idade, outros velhos. A morte não respeita o cronograma que você imaginou para a vida.
Se você não percebe a profundidade e o carinho contidos nestas palavras, considere que um dia eu não estarei mais aqui para escrevê-las. Ou você não estará aqui para lê-las. Até mesmo chegará o dia em que nenhum de nós, absolutamente ninguém, estará por aqui.
Não é para assustar. É para convidar à reflexão.
Talvez você esteja investindo o tempo precioso com objetivos superficiais, obrigações vazias, distrações infinitas, uma perseguição de validação que nunca satisfaz. Cada dia que passa assim é um dia que nunca retorna. Um gole de água desperdiçado no deserto.
Você pode mudar isso. Não eventualmente. Agora. Porque o tempo está passando e você não controla quanto tem.
Identifique especificamente onde está investindo o tempo no que pode não importar. Considere parar de fazer isso. Redirecione para o que realmente importa. Não é complicado intelectualmente. É apenas profundamente desafiador emocionalmente porque exige decepcionar expectativas, enfrentar ansiedade, reconstruir prioridades.
Mas vale perguntar: qual é a alternativa? Descobrir no final – se chegar no final – que desperdiçou a vida inteira com o que não importava?
No tempo está tudo que conhecemos: o início, o meio, o fim. Em suas eras, o calor, o frio, a destruição, a reconstrução. Ciclos eternos. A sua vida é um ciclo breve dentro de um ciclo vasto.
O que você faz com esse ciclo breve importa. Não para o universo. O universo não se importa. Importa para você. E para as pessoas que você toca.
Quando acabar – e vai acabar – o que resta? As conquistas materiais ficam para trás. O status se dissolve. O acúmulo é redistribuído. O que pode permanecer são os ecos: como você afetou os outros, o que criou de significativo, os momentos de conexão genuína que compartilhou.
Você quer que restem apenas ecos de uma vida desperdiçada perseguindo o que não importava? Ou quer ter vivido de uma forma que justifica ter existido? A escolha está sendo feita agora. A cada dia. A cada hora. A cada gole de água do cantil.
Cuide da sua saúde espiritual. Porque ninguém fará isso por você.