
Existe uma pergunta sobre Alzheimer que raramente é feita em voz alta, mas que atravessa a mente de quem assiste ao declínio cognitivo de alguém próximo. Não é pergunta sobre tratamentos, protocolos, genética ou fatores de risco. É pergunta existencial, incômoda, que toca no núcleo do que significa ser humano.
A pergunta é esta: se você soubesse que vai desenvolver Alzheimer nas próximas décadas, o que faria hoje?
Não é pergunta fácil. Porque obriga você a olhar para algo que prefere ignorar. Obriga você a confrontar a possibilidade de perder gradualmente aquilo que define quem você é – sua memória, sua identidade, sua autonomia.
Diante dessa pergunta, existem essencialmente três caminhos.
O primeiro caminho é a negação. Simplesmente não pensar sobre isso. Afastar a ideia sempre que ela surge. Continuar vivendo como se o risco não existisse, como se declínio cognitivo fosse algo que acontece apenas com outras pessoas, famílias distantes, estatísticas abstratas. Este caminho tem a vantagem da tranquilidade imediata. Não pensar no problema elimina a ansiedade associada a ele. Pelo menos temporariamente.
O segundo caminho é a preocupação paralisante. Reconhecer o risco, sentir o peso dele, mas não conseguir transformar essa consciência em ação. Ler sobre Alzheimer, conhecer os fatores de risco, entender as estatísticas, mas permanecer preso em loop de ansiedade que nunca se converte em mudança concreta. Este caminho carrega o pior dos dois mundos: a angústia de saber sem o empoderamento de agir.
O terceiro caminho é a ação informada. Olhar para o risco de frente, avaliar honestamente os fatores que estão sob seu controle, e começar a modificá-los sistematicamente. Não com garantia de sucesso, mas com comprometimento genuíno de fazer o que está ao seu alcance. Este caminho não elimina o risco, mas reduz significativamente a probabilidade. E oferece algo igualmente valioso: a paz que vem de saber que você fez sua parte.
A diferença entre esses três caminhos não é apenas prática. É existencial.
Escolher negar é escolher o conforto presente em troca de risco futuro amplificado. É decisão válida – algumas pessoas preferem viver sem o peso dessa consciência. Mas é importante reconhecer que é uma escolha, não ausência de escolha.
Escolher preocupar-se sem agir é talvez o caminho mais doloroso. Porque carrega o custo emocional da consciência sem os benefícios da ação. É viver em estado de ansiedade crônica que não protege, apenas corrói.
Escolher agir é aceitar responsabilidade. É reconhecer que, embora você não controle tudo, controla mais do que gostaria de admitir. E que suas escolhas diárias – sobre alimentação, exercício, sono, estresse, conexões sociais – estão moldando seu cérebro de amanhã.
Existe uma segunda pergunta, ainda mais incômoda que a primeira: se você não faria nada diferente sabendo do risco de Alzheimer, por que não?
Talvez porque as mudanças necessárias parecem grandes demais. Talvez porque requerem abandonar confortos aos quais você está profundamente apegado. Talvez porque envolvem confrontar verdades sobre seu estilo de vida que prefere não examinar.
Ou talvez – e esta é a possibilidade mais difícil de aceitar – porque você não valoriza suficientemente seu futuro cognitivo para modificar seu presente confortável.
Não é julgamento. É observação. Muitas pessoas, quando confrontadas honestamente com essa pergunta, percebem que suas prioridades reveladas (aquilo que efetivamente fazem) diferem substancialmente de suas prioridades declaradas (aquilo que dizem valorizar).