A proteína (que você pode produzir) que protege o cérebro

Saúde física1 mês atrás4 Visualizações

Em 2019, dois pesquisadores brasileiros publicaram uma descoberta que mudou o entendimento sobre como exercício físico protege contra Alzheimer. Fernanda de Felice e Sergio Ferreira, trabalhando na UFRJ, identificaram um mecanismo molecular específico pelo qual atividade física intensa defende neurônios contra degeneração.

A descoberta foi publicada na Nature Medicine, revista científica de altíssimo impacto. Não é especulação ou correlação estatística. É mecanismo biológico documentado e replicável.

O que eles descobriram

Durante exercício físico intenso, músculos esqueléticos liberam proteína-hormônio chamada irisina na corrente sanguínea. Essa substância atravessa a barreira hematoencefálica – filtro altamente seletivo que protege cérebro de substâncias potencialmente nocivas – e interage com neurônios.

Irisina é uma homenagem à deusa grega Íris, a deusa do arco-íris e mensageira dos deuses, simbolizando a comunicação entre os músculos e outros tecidos do corpo. 

A irisina funciona como mensageiro químico. Ela ativa cascatas de sinalização celular que aumentam produção de BDNF, fator neurotrófico derivado do cérebro. BDNF é essencialmente fertilizante para neurônios, pois promove sobrevivência neuronal, estimula crescimento de novas conexões sinápticas e fortalece circuitos existentes.

Em modelos experimentais de Alzheimer, a irisina demonstrou capacidade de proteger neurônios contra toxicidade causada por beta-amiloide, a proteína que se acumula no cérebro de pessoas com a doença. Mais que isso: reverteu parcialmente déficits cognitivos já estabelecidos.

Por que isso importa

Durante aproximadamente duzentos mil anos de evolução humana, a atividade física intensa era componente inevitável da sobrevivência. Caçar, coletar, migrar, fugir de predadores – tudo exigia esforço físico substancial e regular.

Seu corpo evoluiu esperando esse estímulo. O sistema irisina-BDNF não é um recurso opcional – é mecanismo de manutenção cerebral que depende de ativação regular através de exercício.

O sedentarismo moderno priva você dessa proteção. É como ter um sistema de segurança sofisticado em casa, mas nunca ligá-lo. A capacidade existe, mas permanece inativa.

O que não funciona

Exercícios leves e moderados têm benefícios cardiovasculares, metabólicos e psicológicos importantes. Mas não produzem liberação significativa de irisina. A cascata hormonal específica que protege cérebro requer intensidade suficiente para estressar músculos de forma que desencadeie a resposta adaptativa robusta.

Caminhar é melhor que nada. Mas não ativa o mesmo mecanismo neuroprotetor que a corrida intensa, o treino de força pesado ou exercícios intervalados de alta intensidade ativam.

Talvez isso explique por que os estudos mostram que pessoas que se exercitam intensamente têm risco substancialmente menor de desenvolver Alzheimer comparadas àquelas que permanecem sedentárias ou fazem apenas atividade leve.

Como implementar

Não precisa ser atleta de elite. Precisa ser suficientemente intenso para desafiar seu corpo além da zona de conforto.

Treino de força com cargas progressivas também funciona. Três séries de exercícios compostos (agachamento, levantamento terra, supino, remada) com peso que permite 8-12 repetições por série, realizadas até próximo da falha muscular, são suficientes para desencadear uma liberação significativa de irisina.

Exercícios intervalados de alta intensidade também funcionam. Sprints de trinta segundos alternados com recuperação ativa, repetidos por dez a quinze minutos, também produzem resposta hormonal robusta.

A frequência mínima efetiva parece ser três sessões semanais. Menos que isso pode não ser suficiente para manter níveis protetores de irisina. Mais que isso oferece benefícios adicionais, mas os retornos são decrescentes.

O descompasso evolutivo

O ambiente ancestral fornecia estímulo físico intenso regularmente, independente de motivação ou disciplina. Era necessidade para sobrevivência. O corpo humano evoluiu assumindo que esse estímulo estaria presente.

O ambiente moderno eliminou essa necessidade. Você pode sobreviver confortavelmente sem jamais elevar a frequência cardíaca acima de cem batimentos por minuto. Pode alimentar-se, trabalhar, deslocar-se, socializar – tudo sem esforço físico significativo.

Mas seu cérebro continua dependendo do estímulo que você não fornece mais. O sistema neuroprotetor permanece desativado. A manutenção preventiva não acontece. A vulnerabilidade acumula-se silenciosamente ao longo de décadas.

Quando o declínio cognitivo se manifesta – geralmente após os sessenta – muitas pessoas interpretam como inevitabilidade do envelhecimento. Talvez não seja. Talvez seja consequência acumulada de décadas privando cérebro da proteção que ele evoluiu esperando receber!

A escolha

A descoberta brasileira sobre a irisina não oferece solução mágica. Oferece um mecanismo documentado através do qual você pode ativar a proteção cerebral que já está codificada no seu DNA.

O exercício intenso regular não garante que você nunca desenvolverá Alzheimer. Mas reduz significativamente a probabilidade. E oferece benefícios adicionais substanciais para saúde cardiovascular, metabólica, óssea e psicológica.

A pergunta não é se vale a pena. A pergunta é: por que você escolheria abrir mão dessa proteção?

Cuide da sua saúde física. Porque ninguém fará isso por você.

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