
Esta anilha redonda de ferro fundido pesa exatos 15 quilos. Você a encontra em academias pelo mundo. Ela representa apenas uma fração do peso que carregava distribuído pelo meu corpo na forma de gordura. Na verdade, eram 18,6 quilos – mais até que esta anilha aqui na imagem.
Esse foi meu inimigo invisível por quase cinco anos. E a palavra “invisível” não é dramática – é literal. Você simplesmente não percebe quando ele se instala.
Com 1,75m de altura, cheguei a pesar 88,6 quilos. IMC de 28,9 – sobrepeso beirando o primeiro nível de obesidade. Mas olhando fotos da época, não é tão perceptível. Talvez o rosto mais redondo, o pescoço mais cheio, a cintura ligeiramente expandida.
O corpo é generoso nessa crueldade. Ele distribui o peso estrategicamente. Alguns quilos nas coxas, outros no abdômen, um pouco nos braços, nas costas. Reparte para que você não veja. Disfarça sob a roupa. Adia o choque.
Convivi com esse peso dia e noite. Ele me acompanhava em cada caminhada, em cada refeição, em cada movimento. Estava acelerando processos de envelhecimento e adoecimento celular que eu sequer tinha consciência de estar vivendo.
Até que um dia você olha no espelho de forma crítica, tem a brilhante ideia de subir na balança, e finalmente vê o número. O choque é duplo: pelo peso em si, e por ter levado tanto tempo para perceber.
Talvez você também carregue sua própria anilha agora mesmo. As estatísticas mostram que 60% dos brasileiros convivem com sobrepeso ou obesidade. Mas o perigo maior não está no número da balança. Está na invisibilidade dessa condição. Não temos o hábito de nos observar com atenção. Cuidamos mais da vida dos outros – filhos, pais, parceiros, amigos que precisam de apoio – e nos tornamos transparentes para nós mesmos.
Foi exatamente por isso que batizei este projeto de “Cuide de Sua Vida”. Porque ninguém vai fazer isso por você.
Hoje peso 70,5 quilos. Mantenho uma faixa entre 69 e 71 quilos há mais de oito anos. Perdi os 18,6 quilos iniciais em seis meses. Sem efeito sanfona. Sem recaídas. Sem voltar a engordar.
E aqui está a parte que ninguém quer ouvir: não há fórmula mágica. Não há método fácil. Não há atalho. Essa é a má notícia. A pior, talvez, porque parte significativa dos impulsos que nos fazem exagerar na comida ou escolher alimentos destrutivos tem raízes emocionais profundas que nenhuma dieta da moda consegue tocar.
Mas há algo mais poderoso que qualquer dieta: há conhecimento. E conhecimento, quando aplicado com consistência, liberta.
Deixa eu te mostrar algo que mudou completamente minha relação com comida e corpo. Nosso genoma – o conjunto completo de instruções genéticas que programa nosso corpo – foi moldado ao longo de milhões de anos de evolução. Os últimos 200 mil anos da espécie Homo sapiens foram passados em ambientes de escassez calórica.
Conseguir comida era luta diária pela sobrevivência. Passar dias sem comer era comum. Encontrar mel selvagem, frutas maduras ou abater um animal eram eventos raros, preciosos, a serem celebrados.
Por isso desenvolvemos circuitos neurológicos intensos que nos fazem buscar açúcar, gordura e sal com voracidade quase compulsiva. Esses nutrientes eram raros e essenciais. Quem comia mais quando havia abundância, armazenava mais gordura, sobrevivia melhor aos períodos de fome. A seleção natural favoreceu os comedores compulsivos. Seus genes chegaram até você.
Agora avance 20 mil anos – um piscar de olhos evolutivo. O mundo mudou radicalmente em poucas décadas. Supermercados abertos 24 horas. Delivery que chega em 30 minutos. Alimentos ultraprocessados projetados em laboratórios para sequestrar exatamente aqueles circuitos ancestrais de recompensa.
Açúcar, gordura e sal estão disponíveis em quantidades ilimitadas, por preços irrisórios, a qualquer hora do dia ou da noite. Mas seu corpo? Continua programado para aquele mundo antigo de escassez.
Esse é o descompasso: um corpo de 20 mil anos atrás tentando viver no mundo de hoje.
Compreender o porquê evolutivo do ganho de peso transforma a equação completamente. As decisões certas deixam de ser sobre “força de vontade” ou “disciplina” e passam a ser sobre estratégia inteligente baseada em biologia. Não é culpa sua sentir fome uma hora depois de comer pão branco. Seu corpo está respondendo ao pico e queda brusca de glicose no sangue, exatamente como foi programado para fazer ao longo de milhões de anos.
Não é fraqueza moral querer comer quando está estressado. O cortisol elevado ativa vias metabólicas ancestrais que pedem energia rápida para “fugir do predador” – mesmo que o predador seja seu chefe no email.
Não é falta de caráter ter dificuldade em parar de comer batata frita. A combinação de sal, gordura e carboidratos refinados foi literalmente projetada por engenheiros de alimentos para sequestrar seus circuitos de recompensa, os mesmos que mantiveram seus ancestrais vivos. Quando você compreende a biologia, para de se culpar. E quando para de se culpar, consegue fazer escolhas diferentes.
Mas tem algo mais importante que preciso dizer: saúde não é só sobre o corpo físico. A Organização Mundial da Saúde define: “Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças.” Percebe a extensão? Até o bem-estar social entra na equação.
Por isso este projeto trabalha com o tripé: saúde física, mental e emocional. Se um desses pilares está comprometido, os outros inevitavelmente sofrem. Não há como isolar.
Minha jornada com sobrepeso estava entrelaçada com questões emocionais profundas, com padrões mentais autodestrutivos, com a forma como me relacionava comigo mesmo. Resolver apenas o aspecto físico sem olhar para os outros dois seria construir uma casa sobre areia.
Hoje, quando seguro esta anilha de 15 quilos, sinto uma gratidão estranha. Ela me ensinou algo fundamental: você pode mudar radicalmente sua realidade quando para de lutar contra a biologia e começa a trabalhar com ela.
Mas para isso, primeiro você precisa enxergar o inimigo. E ele é invisível justamente porque você parou de olhar para si mesmo com atenção, com cuidado, com amor. Olhe para si. Olhe de verdade.
Esse inimigo invisível – seja ele sobrepeso, alguma doença crônica silenciosa, ou qualquer outra condição que rouba sua vitalidade – não precisa continuar morando em você. Desafios nos fazem crescer. Como dizia meu avô, “reforçam nosso couro”. Mas só se você decidir enfrentá-los.
Cuide de sua vida. Porque ninguém fará isso por você.