Fique esperto: Alzheimer não é sentença genética

Saúde mental1 mês atrás5 Visualizações

De acordo com artigo publicado na revista Genetics in Medicine em 2012, o risco médio ao longo da vida de desenvolver Alzheimer é de 10 a 12 por cento. Esse risco dobra se há um parente de primeiro grau – pai ou mãe – com o transtorno.

Isso parece sugerir forte componente genético. E há, de fato, genes associados ao risco aumentado. Mas a história é muito mais nuançada do que “se você tem o gene, vai desenvolver a doença”.

O gene mais importante – e o que ele não significa

O gene mais significativo descoberto relacionado ao Alzheimer é a apolipoproteína-E, localizada no cromossomo 19. Este gene ocorre em três formas: tipo 2, tipo 3 e tipo 4.

Todas as pessoas têm dois genes de apolipoproteína-E – podem ser do mesmo tipo (2/2, 3/3 ou 4/4) ou combinação de dois tipos (2/3, 2/4, 3/4).

Foi descoberto que pessoas com pelo menos um gene tipo 4, e especialmente aquelas com dois genes tipo 4 (4/4), apresentam risco aumentado de desenvolverem Alzheimer mais cedo do que pessoas com outros tipos.

Mas aqui está o dado que muda tudo: metade das pessoas que têm 85 anos e carregam duas cópias de apolipoproteína-E tipo 4 – o pior perfil genético possível – não têm sintomas da doença nessa idade.

Metade. Com o gene de maior risco, em dose dupla, metade permanece cognitivamente saudável.

Por outro lado, pessoas com tipo 2 – especialmente tipo 2/2, que parece oferecer proteção – às vezes desenvolvem demência muito mais cedo na vida.

O que isso significa

Isso significa que o tipo de apolipoproteína-E não é suficiente para causar Alzheimer. Ter o gene de risco não garante que a doença vai ocorrer. Não ter o gene de risco não garante proteção.

O gene cria predisposição. Mas predisposição não é destino.

Genética versus epigenética

Aqui está a distinção crucial: genética é o código que você herda. Epigenética é como esse código é expresso – quais genes são ativados ou silenciados – baseado em fatores ambientais.

Todos carregamos genes para diversas condições. Mas muitos desses genes permanecem inativos a vida inteira, a menos que algo os ative. Esse “algo” são os gatilhos ambientais: alimentação, exercício, sono, estresse, exposição a toxinas, inflamação crônica.

A epigenética é a interação entre fatores ambientais a que estamos sujeitos e a expressão da informação contida no DNA.

Você pode ter gene de risco para diabetes, hipertensão ou Alzheimer. Mas se nunca acionar os gatilhos que ativam esses genes, eles podem permanecer dormentes. Por outro lado, pode não ter gene de risco significativo mas, através de décadas de gatilhos ambientais prejudiciais, desenvolver a condição de qualquer forma.

Os três tipos de Alzheimer

Isso se torna mais claro quando entendemos que Alzheimer não é doença única com causa única. Há pelo menos três tipos principais, cada um com fatores contribuintes diferentes.

O Alzheimer Atrófico ocorre quando há déficit progressivo do número de mitocôndrias nas células neurais. Os neurônios e células da glia se encurtam. O cérebro pode perder até 50% do peso – de aproximadamente 1,4 kg para 0,7 kg. Uma pessoa pode perder naturalmente até 12% do peso cerebral até os 90 anos. Mas no Alzheimer atrófico, a perda é muito mais severa.

O Alzheimer Inflamatório resulta de estado inflamatório permanente, frequentemente subclínico – não produz manifestações detectáveis através de exames clínicos regulares inicialmente. É consequência de estilo de vida incompatível com nossa fisiologia: alimentação com baixo nível de micronutrientes, elevado consumo de açúcar e refinados, falta de atividade física, sono inadequado.

O Alzheimer Tóxico advém do consumo ou exposição a produtos com elevados níveis de substâncias que causam dano à saúde se ingeridas, inaladas ou em contato com a pele. Mesmo em pequenas quantidades, mas de forma regular ao longo de anos, o acúmulo dessas substâncias – principalmente no cérebro – promove degeneração das células nervosas.

A explosão de casos

No Brasil, estima-se que existam 1,2 milhão de casos, a maior parte ainda sem diagnóstico. No mundo, são quase 36 milhões. Em 2050, serão 4 milhões no Brasil e mais de 150 milhões no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.

A população não crescerá nessa proporção. O que significa que demência e Alzheimer estão em franca progressão.

Por quê? Se fosse primariamente genético, não veríamos explosão tão rápida. Genes não mudam em décadas. Mas ambiente e estilo de vida mudaram radicalmente.

O que realmente causa Alzheimer

Alzheimer, antes de tudo, parece ser doença do estilo de vida moderno. No mesmo nível da diabesidade – síndrome composta por diabetes e obesidade.

O corpo humano, nossa fisiologia, foi moldada durante milhões de anos. Durante 99,9% desse período, o alimento era escasso, a vida ao ar livre, a atividade física constante e necessária. Não havia elementos agressores modernos: alimentos ultraprocessados, exposição constante a toxinas sintéticas, sedentarismo absoluto, privação crônica de sono, estresse psicológico perpétuo, inflamação de baixo grau mantida por décadas.

Esses fatores modernos acionam genes que de outra forma permaneceriam dormentes. Criam condições onde declínio cognitivo se torna muito mais provável, independente da carga genética de base.

Alzheimer Familiar – a exceção

Existe forma rara de Alzheimer que é genuinamente genética: a Doença de Alzheimer Familiar (DAF). Se um dos pais possui mutação genética que provoca DAF, cada filho tem 50% de probabilidade de herdá-la. A presença do gene significa que a pessoa desenvolverá Alzheimer, normalmente entre 40 e 60 anos.

Mas essa forma afeta número extremamente reduzido de pessoas: 1 a 4% do total dos casos. Para 96 a 99% dos casos, a genética é fator de risco, não sentença inevitável.

O que isso significa praticamente

Se Alzheimer fosse primariamente genético e inevitável, não haveria o que fazer além de esperar. Mas se é primariamente resultado de décadas de gatilhos ambientais acionando genes suscetíveis, então há muito o que fazer.

Modificar alimentação. Estabelecer rotina consistente de exercício. Priorizar sono adequado. Gerenciar estresse crônico. Reduzir exposição a toxinas quando possível. Endereçar inflamação crônica.

Nenhuma dessas coisas garante proteção completa. Mas podem significativamente reduzir probabilidade de acionar os gatilhos que ativam genes de risco. E para pessoas que já carregam carga genética mais pesada, essas modificações podem ser diferença entre desenvolver a doença ou permanecer cognitivamente saudável.

A escolha

Genética carrega a arma. Epigenética – suas escolhas diárias ao longo de décadas – decide se o gatilho será puxado.

Você não controla os genes que herdou. Mas controla, em grande medida, se e quando eles serão expressos.

Cuide da sua saúde mental. Porque ninguém fará isso por você.

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